terça-feira, 9 de setembro de 2014

Pão Integral, posso consumir à vontade?

A resposta é:   Depende…



Hoje vou contar um pouco pra vocês a respeito do suposto pão integral que nós brasileiros estamos consumindo. 

Acontece que de acordo com a RDC N° 90, de 18 DE OUTUBRO DE 2000 (a mais atual que temos), o pão integral deve ser composto por farinha de trigo e farinha de trigo integral e ou fibra de trigo e ou farelo de trigo
2.2.4. Pão integral: produto preparado, obrigatoriamente, com farinha de trigo e farinha de trigo integral e ou fibra de trigo e ou farelo de trigo.




(Ou seja, eu posso produzir um pão de farinha branca, enriquecida com farelo de trigo e chama-lo de integral).

Em outros países como EUA e Holanda o pão integral de trigo só pode levar esse nome se for produzido apenas com farinha integral. 

Na Holanda, apenas pães feitos com 100% de grãos não processados ganham o rótulo de integrais.
Assim…
Existe algum produto no mercado que seja 100% integral? Segundo os rótulos existe…
integral 1integral 2 integral 4 integral
E os ingredientes também….
rotulo integral

Então… posso comer desses pães 100% integrais a vontade?

 Não!! Para adquirir a textura adequada, são introduzidos nesses pães uma série de aditivos químicos que conferem a maciez necessária, inclusive o glúten é adicionado como ingrediente para tal.
A que conclusão chegamos? Que existem pães 100% integrais no Brasil, porém nem todos que afirmam ser integrais o são verdadeiramente. 
Então, antes de comprar um pão procure ler os ingredientes para saber se ele é realmente integral. Pela quantidade de aditivos químicos que os pães 100% integrais apresentam, eu sugiro que faça o seu próprio pão integral, congele no freezer em porções e vá descongelando à medida que for consumindo.

Segundo algumas fontes, descobrimos que após denuncias ao Ministério Público, já existe um inquérito em andamento, pedindo urgência à ANVISA para que haja aprimoramento na norma vigente  de modo a definir padrões de identidade, qualidade e teor mínimo de grãos integrais nos produtos à base de cereais integrais.

Vamos ficar de olho!!!

 

Bebês podem comer de tudo?

Bebês podem comer de tudo?

Não.

Não é a primeira vez que sou questionada sobre o que pode ser dado a bebês a partir dos seis meses de vida (época em que são introduzidas papinhas e outros alimentos, além do leite materno). Uma criança que está no início de sua adaptação a alimentação não pode duas coisas: a primeira, abandonar totalmente o leite materno (a indicação é que ele seja mantido em conjunto com a introdução de outros alimentos até, pelo menos, um ano) e, a segunda, sair comendo o que a mãe vê pela frente.
Vamos aproveitar para falar aqui de algumas coisas que você deve evitar no pratinho do seu filho até ele chegar aos dois anos de idade.

Açúcar
acucar
Esta é a melhor fase para ensinar seu filho sobre os verdadeiros sabores dos alimentos, especialmente das frutas e sucos. Evite adoçar qualquer coisa que for servir a um bebê, primeiro porque o açúcar puro (especialmente o refinado) não acrescenta nada em valores nutricionais para o seu filho – ele é simplesmente uma caloria vazia; segundo porque, quanto mais tempo seu filho ficar sem ingerir este produto, menor costume ele terá para adoçar sucos e outros alimentos no futuro – diminuindo significativamente risco de desenvolver diabetes e obesidade; terceiro que o açúcar, além de tudo, é relacionado ao aumento de incidência de cárie dentária.


Refrigerantes e sucos de caixinha
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Pelos mesmos motivos do açúcar, os refrigerantes e os sucos de caixinha não tem valor nutricional relativamente importante para a criança: são ricos em açúcar livre (e em alguns casos, adoçante) e contém alto teor de conservantes e sódio em sua composição. Se eles não são necessários, melhor evitar, correto?


Mel
mel
A restrição do mel para crianças (e até gestantes) não é por ser um alimento formado por açúcar, e sim por uma questão de segurança alimentar. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) recomenda não oferecer este alimento para bebês e gestantes por causa do risco de contaminação com Clostridium Botulinum, que é a bactérica causadora do botulismo, doença que causa paralisia dos músculos e até morte. Como até pelo menos seis meses a criança ainda está desenvolvendo seu sistema imune, e a sua flora intestinal, o seu consumo não é recomendado, porque o bebê não conseguira combater esta infecção.


Produtos industrializados
produto_industrializado
A alimentação do bebê deve ser a mais natural possível até quando for possível. Não há idade certa para iniciar a introdução de alimentos industrializados na sua rotina, mesmo porquê, alimentar-se naturalmente é recomendável em qualquer fase da vida. Produtos industrializados costumam ter maior teor de sódio, açúcar, corantes e conservantes, que são dispensáveis na inicialização do bebê a alimentação.


Adoçante
adoçante
Gosto de dizer que o adoçante não é um ingrediente para receitas, e sim um remédio para quem não pode consumir açúcar livre – ou seja, indivíduos com diabetes. Mesmo que seu bebê venha a desenvolver diabetes do tipo I (ou insulino-dependente) ao longo da vida, não há necessidade de “medicá-lo” desde cedo com este produto: se já sugerimos não adoçar os alimentos da criança com açúcar, porquê o faríamos com adoçante? Apesar de vários estudos científicos provarem que o consumo deste produto industrializado não é maléfico para a saúde, não há, na minha concepção, tempo suficiente de consumo de adoçante pela população humana para a produção de estudos que mostrem a real consequência do seu consumo a longo prazo. Melhor evitar do que remediar.


Leite de vaca
leite
O bebê vive de leite sim, mas de leite humano, não leite de vaca. Este alimento deve ser evitado porque as proteínas do leite de vaca são de absorção mais complexa do que as do leite humano (tanto é que até alguns adultos tem intolerância a ela), podendo lesar a mucosa do intestino da criança, interferindo na absorção de todos os outros nutrientes provenientes de outros alimentos. Se seu filho não tolera o leite humano, a segunda opção deve ser as fórmulas infantis industrializadas, vendidas por marcas como Danone, Nestlé e Mead Johnson  – elas são formuladas para serem semelhantes ao leite materno.


Peixes e frutos do mar (especialmente crus)
peixes
Apesar de extremamente importantes para a alimentação humana (por seu valor nutricional), estes alimentos são um risco para a saúde do seu bebê. Como a criança ainda está formando seu sistema imune não é possível identificar se ela terá algum tipo de alergia a estes alimentos, visto que muitos deles apresentam compostos alergênicos, mesmo depois de preparados. Estes alimentos crus também trazem maior risco de contaminação e infecção para seu filho. Evite.

Café e chocolate
café_chocolate
Dois dos alimentos considerados estimulantes por especialistas em nutrição, o café e o chocolate (este segundo, além de ser formulado com leite e açúcar, que já não são recomendados para bebês) podem deixar a criança agitada e prejudicar seu sono durante o dia e a noite. Simplesmente não há necessidade de servir estes alimentos para seu bebê: ele não precisa ficar acordado o tempo todo, e ele não sentirá falta de chocolate como sentimos.
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Estes são só alguns dos alimentos que devem ser evitados na primeira fase de vida de seu bebê. O ideal é que, com a manutenção dos hábitos bons alimentares, alguns deles não precisem ser adicionados a rotina do seu filho por um bom tempo (como açúcares, refrigerantes, alimentos industrializados). Outros, como o leite, peixes e frutos do mar, devem ser testados, preferencialmente, após os dois anos de idade, para evitar maiores problemas.

Nutricionista é muito mais que "faz uma dieta pra mim?"


Oi, você é nutricionista?

Se você é formado em nutrição, com certeza arrepia quando escuta a pergunta que dá título a este texto. 

Sim, nós nutricionistas as vezes temos medo de falar que somos nutricionistas pelo simples motivo de não querer escutar os questionamentos que vem a seguir: “Tô precisando tanto de uma dietinha, me ajuda?”, “Quantas calorias tem um prato de macarrão?”, “Nossa, você deve ficar avaliando o que a gente come no almoço né?”. Não, não e não.

Formar-se nutricionista é carregar, para o resto da vida, o fardo de ser visto como uma calculadora biológica ambulante. Já perdi as contas de quantas vezes na vida me perguntaram qual era o valor calórico de um alimento, ou se era melhor cortar o suco de laranja do café da manhã. Tudo bem, as perguntas que chegam até ai não são um problema, faz parte do dever de ser formado em nutrição (apesar da gente não saber de cor os valores calóricos de todos os alimentos do supermercado, da mesma maneira que um químico não sabe todas as informações da tabela períodica e os advogados não sabem citar todas as leis). O problema esbarra no pedido, muitas vezes ingênuo, que vem a seguir: “Faz uma dieta pra mim?”. Amigo, se você não é nutricionista, mas tem um conhecido que trabalha nesta área, preste muita atenção no que vou lhe dizer agora: montar uma dieta não é tão simples o quanto parece.
diario_de_um_nutri

Resolvi escrever este texto-desabafo há poucos dias, quando ouvi, num intervalo de uma única semana, cerca de seis pedidos para montar dietas. “Isto é ótimo”, vocês diriam. Concordo, seria ótimo se estes pedidos não fossem para “dar uma ajudinha gratuita” a um colega que quer perder peso, afinal, “não custa nada né”? Custa. Custa muito, e vou lhe contar porque. Da mesma maneira que você se formou engenheiro, médico, biólogo, artista, advogado, publicitário ou qualquer outra coisa, o nutricionista também estudou para chegar ao título de bacharel na área. São pelo menos quatro anos de curso, com mais alguns anos de pós graduação, mestrado e até doutorado para quem seguiu carreira acadêmica. Por mais que eles possam ter sido realizados em universidades públicas, este tempo custou dinheiro, investimento em livros, em horas de estudo e em estágios, muitas vezes voluntários, nas múltiplas áreas de nutrição clínica e produção. Quando nos formamos, e seguimos a carreira clínica, o nosso trabalho é sim fazer dietas. E dá trabalho ouvir todas as queixas do paciente, entender todas as suas restrições alimentares, calcular sua necessidade nutricional e descobrir o valor calórico das suas refeições diárias. Não se esqueça que, além disto, temos que montar um cardápio que se adeque a seu hábito de vida, seus horários e que tenha uma enorme lista de substituição de alimentos, para que você não canse de sua rotina alimentar. Não, não é só puxar uma fórmula mágica que se encontra na gaveta do seu consultório. Você com certeza não trabalha de graça (ou se trabalha, não gosta disso). Pois é, nós também não. E montar a sua dieta não vai nos tomar somente a uma hora de duração da sua consulta. Dependendo da complexidade do caso ela pode tomar noites e mais noites da nossa rotina em casa.
Mas não quero dizer, através deste texto, que não fazemos alguns serviços de graça. É claro que acabamos caindo nesta tentação logo que formamos, para ajudar um familiar ou um amigo próximo, ou até mesmo para nos auto-promover,, e nos disponibilizamos para fazer algo muito legal. E logo quando você dá a primeira orientação, para que a pessoa monte um recordatório alimentar de três dias, para que você entenda onde é possível melhorar a alimentação, é possível ouvir a primeira restrição: “Ah, mas eu não sei”, ou a famosa “ah, você não precisa disso né? É só uma dietinha”. Realmente, é só uma dietinha. E é por este motivo que nós, nutricionistas formados, pós graduados, mestres e doutores estamos aceitando ganhar mixaria para trabalhar em hospitais ou clínicas, ou não conseguimos cobrar mais de R$100,00 em uma consulta sem ser chamados de mercenários: porque não é dado o devido valor ao trabalho que é reeducar a alimentação de alguém.
nutri 


Nunca me esqueço da frase que uma vez ouvi de uma professora, ainda na faculdade: 
“Nunca deem de graça o único talento que vocês podem vender”

Fazer dietas é nosso talento. Pode parecer pouco? Talvez. Mas para nós é muito, é trabalhoso e valioso. Por este motivo, estudantes de nutrição, nunca entreguem de graça um trabalho que é seu, por mais que lhe obriguem; nutricionistas, não tenham medo de mostrar seu preço, o valor justo é o valor de seu investimento; pacientes e clientes, valorizem o profissional que você escolheu para te atender , ele é especialista em tratar o seu problema; e por último amigos, colegas de trabalho e familiares, respeitem o trabalho do nutricionista

Se você teve a oportunidade de ganhar um plano alimentar de graça, usufrua o máximo dele – ele não é uma “dietinha de gaveta”, mas sim um documento extensamente trabalhado para sua saúde. Se você não teve esta sorte, por favor, não insista – se você realmente valoriza o trabalho deste profissional, aceite pagar para receber algo que lhe dê resultados reais.
Não espero que este texto consiga mudar o pensamento de ninguém. 

Nem mesmo de nós nutricionistas. Só espero que tenhamos a consciência de que, para mudar este cenário, primeiro precisamos nos unir para mudar o que nós mesmos pensamos do nosso trabalho.

Texto : http://batatafritapode.com/